Este espaço foi criado para trocar ideias e atividades da área de Lingua e Literatura, compartilhando com os colegas experiências vividas ao longo da minha profissão.

Língua

Gosto de sentir a minha lígua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesias está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade (...)
(Caetano Veloso)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cem dias de solidão ou “eu quero tchu”


Cem dias de solidão ou “eu quero tchu”
 
Maria do Socorro S. Aquino de Deus[1]
 
Chegamos a cem dias de greve da educação estadual, na Bahia. O que se pensou ser um movimento reivindicatório por condições salariais mais dignas transformou-se na maior quebra de braço, entre a categoria e o governo, jamais vista na Bahia. O governo, com todo seu poderio de recursos, propaganda e corte de salários não conseguiu obrigar os professores a voltarem às aulas sem que o acordo assinado com a categoria fosse atendido.
Além do já sabido, a falta de valorização do profissional da educação, a greve dos professores mostra uma verdade assombrosa: o total desconhecimento por parte da sociedade do que acontece por trás dos portões das escolas públicas – incluindo os Poderes Legislativo e Judiciário e a imprensa. Quando se pronunciam, ou falam a partir de suposições ou mentem ou ficam em silêncio. Talvez esse silêncio por parte de muitos, um silêncio que pode ser visto como cúmplice e criminoso, seja vergonha em assumir o desconhecimento da real situação da educação no estado.
A mais gritante demonstração de ignorância a esse respeito foi o texto da decisão liminar da desembargadora Daisy Lago Coelho que, entre outras pérolas, diz: “Também se apresenta verossímil, senão induvidoso, o grande prejuízo causado pela paralisação do serviço público de educação não apenas à formação cívica e intelectual dos estudantes, mas também ao desenvolvimento físico e à saúde destes, tendo em vista a constatação de que a merenda escolar é, em muitas comunidades deste Estado, o único alimento diário dos infantes”.
Tais afirmações comprovam o desconhecimento total da realidade da educação na Bahia e uma visão completamente equivocada da função da escola e da educação. Bem, considero que a greve causa prejuízo a todos, sim. Mas é consequência de um estado abusivo, de como vem sendo tratada a educação, em tudo que esta envolve, e que parece ser invisível para a sociedade. Muitas escolas funcionam precariamente, sem professores para todas as disciplinas, sem livros didáticos suficientes, com as instalações físicas em péssimo estado, transporte escolar caótico. A formação cívica e intelectual dos alunos vem sofrendo grandes prejuízos há muito tempo!
  A senhora desembargadora acredita que um dos deveres fundamentais da escola é alimentar os “infantes”, demonstrando uma visão preconceituosa e paternalista, para dizer o mínimo, a respeito dos estudantes da escola pública. Que eu saiba - nos vinte anos que dou aulas em escola pública, para alunos do Ensino Médio - a última coisa que esperam da escola é uma refeição por dia. Os estudantes têm fome de muito mais que comida.  Uma aluna me respondeu que “tchu” é tudo de bom, é ser feliz e realizar todos os sonhos. Eles esperam que a escola seja uma etapa para chegar a uma universidade ou a um curso técnico que o habilite a entrar no mercado de trabalho. Anseiam passar no ENEM para conseguir acesso às bolsas de estudo. Ademais, pelo menos na escola em que sou lotada, não teve merenda um só dia deste ano letivo e, se a greve tivesse acabado, até hoje, a situação seria a mesma.
 O que mais me surpreende é o pouco caso com que as autoridades e a imprensa em geral estão tratando o caso.  Políticos preocupados com a corrida eleitoreira e a imprensa com notícias parciais, aceitando divulgar inverdades a respeito dos professores, de forma insensata e leviana. Vi professores chorando de indignação e vergonha, mas resistindo bravamente. A greve é um grito de Chega dos professores. Grito ouvido por poucos e tratado de forma desrespeitosa pelos responsáveis pela resolução do problema.
            Daí a sensação de cem dias de solidão. Cada professor conta com sua força e sua convicção para manter-se incorruptível, mesmo com salários cortados e as dificuldades a bater na porta. E contam uns com os outros, em uma demonstração de solidariedade que fortalece o que acredito ser o papel da educação: não perder a capacidade de indignar-se, ser moralmente capaz de sustentar o que ensina nos duzentos dias letivos de todos os anos da vida profissional, ser capaz de lutar pelo que acredita e inspirar isso nos alunos. Não estamos na escola para ensinar conteúdos apenas, pois estes mudam, assim como muda o mundo. Estamos na escola para ensinarmos, também, que é possível construir uma sociedade justa e igualitária e que para tal acontecer é preciso lutar.
Assim, vivenciamos essa solidão que cerca a educação pública e todo aparato midiático que a reforça, destacando manchetes pífias e divulgando notícias sensacionalistas que têm sempre como protagonistas os mesmos atores – jovens negros e negras de comunidades periféricas – reforçando um estado de coisas que parece imutável. Um sensacionalismo que esconde o silêncio perante questões realmente importantes.
 Quem se importa? De verdade? Afinal, como disse Caetano: “Como é que pretos, pobres e mulatos/ E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados (...)”. Pois é, na escola pública são quase todos pretos ou quase pretos de tão pobres.
[1] Professora da rede estadual de ensino. Mestra em Estudo de Linguagens.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

COMPANHEIROS,ALUNOS E AMIGOS- ESTOU VIVENDO UM PESADELO!!!!!


Texto da professora Eliana Santos Andrade, lotada em uma escola da rede estadual em Salvador, bairro Pau da Lima. O texto foi postado no Facebook, no perfil “Professores do Estado da Bahia”.
COMPANHEIROS,ALUNOS E AMIGOS- ESTOU VIVENDO UM PESADELO!!!!!
Na manhã do dia 26/06(terça-feira) quando acordei e sai de casa pra trabalhar, nem imaginava que teria um dos piores dias da minha vida!!! Sou prof. com 20hs de REDA e 20hs efetiva em estágio probatório no Estado, fui uma das “convocadas” a dar aulas no projeto emergencial do governo de retorno às aulas do 3º ano e tive como outros colegas, que começar a dar estas aulas no dia 25(segunda-feira) no Colégio Davi Mendes. Fiz até o relato da minha experiência deste primeiro dia de funcionamento do projeto e postei aqui no face, como forma de desabafo. No 2º dia, 26, pela manhã, após sair da segunda turma, por volta das 10hs da manhã, estava na sala dos professores junto com outros colegas de várias disciplinas, quando entrou uma senhora a serviço da SEC, que estava “fiscalizando” as escolas pólos, e perguntou qual disciplina cada um ali ensinava…eu e outra colega respondemos História. Fomos então “convidadas” as duas a sair com esta pessoa pra ter uma conversa a parte…simplismente eu e minha colega não sabíamos do que se tratava, mas a acompanhamos. chegando na sala , vazia, ela fechou a porta e começou a nos fazer perguntas: se havíamos recebido o “material” da matéria pra dar aula e se estávamos dando aulas…quando eu tentei explicar, sem maldade, que havia estado com alunos que não conhecia e então estava tendo uma conversa prévia com eles, fui interrompida, com estupidez e esta senhora começou a me dizer vários absurdos, de forma bem grossa, e em alguns momentos até aos berros…
Me falou que os alunos foram até ela me “denunciar” que eu não estava dando aulas e que estava falando sobre a greve na sala… começou a “salientar” de que eu havia sido convocada, que estava ali pra trabalhar e não fazer greve ou falar disso com os alunos… frisou que sabia que eu era reda e probatório e de que minha situação era frágil, que eu tinha que fazer o trabalho para o qual eu fui designada…
num certo momento, pedi a palavra , pra me explicar, contra-argumentar. falei , já começando a ficar abalada emocionalmente, que eu não estava entendendo o porque daquela abordagem, falei que estava me sentindo constragida e desrespeitada, tentei falar mais, porém, ela não deixou….
Mais uma vez, me interrompeu, aos berros, fazendo pouco caso do fato de eu já estar chorando (eu já me encontava depressiva naquele dia), disse que não havia contrangimento nenhum, que eu não estava ali obrigada, e que se eu estava descontente, fosse embora e arcasse com as consequências…usou de um discursso bem ameaçador, de que ou eu trabalhava ou teria consequencias…
tentei ainda argumentar, mas, a pessoa se levantou e lembro-me bem que sua última fala foi que sabia dos meus dados profissionais (numeros de metricula) e de que eu ia ver… estou resumindo a “conversa”, mas foi longa…
ela se foi, segundo o pessoal da escola pediu meus dados e levou com ela, dando claras intenções de me prejudicar…permaneci na sala aos prantos, sem acreditar no que havia acabado de passar, eu já estava abalada emocionalmente havia dias, por conta desta tensão da greve, etc, até desabafei isto aqui no face várias vezes, mas este episódio foi a gota que faltava pra desencadear em mim uma forte crise emocional. fiquei cerca de meia hora na sala , na mesma posição, chorando compulsoriamente, lamentando o dia que me tornei professora, toda a dedicação que tive pra isso, sou licenciada, especialista e mestra, pra ao final de tudo, já não bastasse tudo que já havia acontecido com a categoria até aquele momento, eu ainda ser vítma de constragimento, abuso de poder e ameaça de perder meu emprego, os dois cadastros. não tenho “costas quentes”, não tenho outra fonte de renda, estou tentando me estabilizar na vida pessoal e profissional, mas este (contando com o trato dado pelo governo à categoria), foi um golpe duro demais!!! Não há uma palavra pra definr o que foi isso… me senti “um lixo” como pessoa e como profissional, me senti nos porões da ditadura, sendo interrogada e coagida… me senti num campo de concentração, sob a “máxima” de ou trabalha ou “morre” (lembrando que muitos morreram mesmo trabalhando), enfim, não sei mesmo descrever com precisão O QUE FOI / O QUE É ISSO QUE ESTÁ ACONTECENDO COM A EDUCAÇÃO, NAS ESCOLA PÓLOS DESTE PROJETO E COM MEUS COMPANHEIROS ESPALHADOS POR AÍ ,AINDA TRABALHANDO NESTAS CONDIÇÕES!!!
parece que eu fui escolhida pra ser “bode espiatório”, deste sistema, ou quem sabe, exemplo do que está ocorrendo nos bastidores desta solução do governo…
depois que tomei conhecimento de que a mesma pessoa já havia “aprontado” outras coisas na escola, antes de falar comigo, o sindicato tomou conhecimento disto e do meu caso, me ofereceram suporte e orientação jurídica, fui levada a prestar queixa, contra o constragimento sofrido e tentar tomar precauções contra a possivel exoneração, retaliações, etc.neste mesmo dia, acabei dando entrevista pra duas emissoras de tv, eu não queria me expor, mas não teve jeito…terminei o dia na emergência de uma clinica na pituba, onde fui receitada com remédio tarja preta e obtive atestado para não trabalhar nos próximos dias, dado o meu estado físico e emocional.
de terça pra cá, quase não tenho dormido, tenho tido dias de angustia e de incerteza, sobre o hoje e o amanhã… minha mãe ficou horrorizada, em estado de choque, quando contei. muitos me dizem que eu fiz errado, que eu deveria ter me calado diante do constrangimento, acatado as “ordens” , não ter tentado argumentar e voltar pra sala, pra não sofrer consequencias… outros me dizem que fui corajosa, mas a partir de agora eu terei consequencias…
o que eu sei é que como pessoa e como profissional de História, não posso me calar diante das injustiças, de meus opressores, não posso, e não fiz, mesmo sabendo que sofreria as consequências, achar isso normal, abaixar a cabeça e voltar à sala de aula naquele momento soluçando de chorar!!! minha natureza jamais deixaria isso!!!
POR FAVOR COLEGAS DE ENSINO, ALUNOS E AMIGOS, DIVULGUEM MEU TEXTO, EU NÃO SEI O QUE ME ACONTECERÁ, EU NÃO SOU MELHOR DO QUE NINGUÉM, MAS QUERO QUE MINHA HISTÓRIA SIRVA DE EXEMPLO DE LUTA, DE RESISTÊNCIA E COM FÉ EM DEUS, DE SUPERAÇÃO!!!! OBRIGADO PELO APOIO QUE TENHO RECEBIDO.

A Educação na Bahia está de luto


Estudantes de Brumado realizam uma “roda de protestos” contra o governador

3 DE JULHO DE 2012 10
Os alunos da rede estadual de ensino da cidade de Brumado realizaram uma caminhada , na manhã de sexta-feira, 29, onde estavam com apitos, cartazes pedindo o retorno das aulas, rostos pintados com a palavra luto, e gritos de ‘queremos aula’. A passeata começou na Praça Coronel Zeca Leite [Praça da Prefeitura], e foi até a Praça da Igreja Matriz. Os estudantes se mostraram muito revoltados com o Governo do Estado. Um estudante declarou que “não estamos aqui contra os professores, mas sim para que o governador Jaques Wagner se sensibilize, pois já estamos há muitos dias sem aula, todos estão sendo prejudicados por causa dessa greve” declarou a estudante.
Os alunos depois da caminhada fizeram uma roda e colocaram fogo nos cartazes. O movimento foi apoiado pelas pessoas que viram a manifestação dos jovens.
Fotos: Wilker Porto