Este espaço foi criado para trocar ideias e atividades da área de Lingua e Literatura, compartilhando com os colegas experiências vividas ao longo da minha profissão.

Língua

Gosto de sentir a minha lígua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesias está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade (...)
(Caetano Veloso)

domingo, 27 de março de 2011

Marília de Dirceu - Lira II

"Marília de Dirceu", de Alberto Guignard


Texto I

Lira II

Pintam, Marília, os Poetas
A um menino vendado,
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido,
E de Amor, ou de Cupido
São os nomes, que lhe dão.

Porém eu, Marília, nego,
Que assim seja Amor; pois ele
Nem é moço, nem é cego,
Nem setas, nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem.

Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília, um composto
Da mais formosa união.

Tem redonda, e lisa testa,
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence Amor ao Céu,
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois.

Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.

Mal vi seu rosto perfeito
Dei logo um suspiro, e ele
Conheceu haver-me feito
Estrago no coração.
Punha em mim os olhos, quando
Entendia eu não olhava:
Vendo o que via, baixava
A modesta vista ao chão.

Chamei-lhe um dia formoso:
Ele, ouvindo os seus louvores,
Com um gesto desdenhoso
Se sorriu, e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
Em que estava esta alma posta;
Não me deu também resposta,
Constrangeu-se, e suspirou.

Conheço os sinais, e logo
Animado de esperança,
Busco dar um desafogo
Ao cansado coração.
Pego em teus dedos nevados,
E querendo dar-lhe um beijo,
Cobriu-se todo de pejo,
E fugiu-me com a mão.

Tu, Marília, agora vendo
De Amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo,
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto,
Que ele foi quem me venceu.

Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu. São Paulo, Melhoramentos, 1964. p. 29-30

Texto II

de que seda
é tua pele?

de que fogo
minha sede?

de que vida
tua vinda?

pedaço que pedaço
sonho que teço

que jogo
nos vence?

cedo
mais cedo
do que penso.

Alice Ruiz. Vice-versos. São Paulo, Brasiliense, 1988. p. 36

1. Que impressão você teve sobre o amor ao ler os poemas?

2. Identifique nos poemas pronomes e verbos que revelam a pessoa gramatical do eu lírico.

3. Caracterize o eu lírico de cada poema.

4. Explique o que é o amor para:
a) o eu lírico de Dirceu.

b) o eu lírico do poema de Alice Ruiz.

c) E você, como define a palavra amor?

5. Como é a linguagem predominante em cada poema: formal ou informal? Comente.

6. No verso " E seus olhos são uns sóis", que qualidades foram ressaltadas a respeito dos olhos de Marília?

7. Releia os últimos versos de cada poema. Esses versos apresentam uma ideia comum em relação ao amor. Que ideia é essa?


Do livro: Trabalhando com a Linguagem de Givan Ferreira e outros autores, adaptado como atividade de produção textual, leitura, interpretação e literatura