Este espaço foi criado para trocar ideias e atividades da área de Lingua e Literatura, compartilhando com os colegas experiências vividas ao longo da minha profissão.

Língua

Gosto de sentir a minha lígua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesias está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade (...)
(Caetano Veloso)

terça-feira, 28 de julho de 2009

A origem do Romantismo


A origem do Romantismo

O termo romantismo pode apresentar uma série de significações: romant ou romaunt; língua românica ou neo-latina; narrativas escritas nesta língua; narrativas em geral; oposição ao termo Classicismo (romântico x clássico); movimento cultural e estético da primeira metade do século XIX; atualmente, sentimentalismo.

O Romantismo, apesar de estar relacionado aos sentimentos, refere-se à arte. As significações mais adequadas, das citadas acima, seriam "oposição ao termo Classicismo (romântico x clássico)" e "movimento cultural e estético da primeira metade do século XIX".

Provavelmente tem seu início na Escócia, Inglaterra e Alemanha, países europeus mais desenvolvidos, mas é na França, a partir do fim do século XVIII, mais precisamente a partir da Revolução Francesa de 1789, que o novo movimento ganha proporções revolucionárias.

O Romantismo é um amplo movimento, que surgiu no século passado, e representa, na literatura e na arte em geral, os anseios da classe burguesa, que, na época, estava em ascensão. A literatura, portanto, abandona a aristocracia para caminhar ao lado do povo, da cultura leiga. Por esse motivo, acaba por ser também uma oposição ao Classicismo.

O Arcadismo também conhecido como Neoclassicismo, foi uma arte revolucionária, porque defendia os interesses da burguesia, classe social que promoveria a Revolução Francesa posteriormente. Todavia, identificava-se mais com a aristocracia, formada pela nobreza e pelo clero, já que, quanto ao aspecto estético, limitou-se a eliminar os exageros do Barroco e a retomar os modelos do Classicismo do século XVI.

Ao Romantismo, cabe a tarefa de criar uma linguagem nova, uma nova visão de mundo, identificada com os padrões simples de vida da classe média e da burguesia. Enquanto o Classicismo observava a realidade objetiva, exterior, e a reproduzia do mesmo modo, através de um processo mimético, sem deformar a realidade, o Romantismo deforma a realidade que, antes de ser exposta, passa pelo crivo da emoção.

A arte romântica inicia uma nova e importante etapa na literatura, voltada aos assuntos de seu tempo efervescência social e política, esperança e paixão, luta e revolução e ao cotidiano do homem burguês do século XIX; retrata uma nova atitude do homem perante si mesmo. O interesse dessa nova arte está voltado para a espontaneidade, os sentimentos e a simplicidade, opondo-se, desse modo, à arte clássica que cultivava a razão.

A arte, para o romântico, não pode se limitar à imitação, mas ser a expressão direta da emoção, da intuição, da inspiração e da espontaneidade vividas por ele na hora da criação, anulando, por assim dizer, o perfeccionismo tão exaltado pelos clássicos. Esses artistas vivem em busca de fortes emoções e aventuras na tentativa de colher experiências novas e criadoras. Alguns chegam até a se envolver com o alcoolismo e drogas ou com um sentimento de pessimismo, enquanto outros participam de lutas sociais.

O conceito grego de belo na arte, tão defendido pelos clássicos, que eliminavam as notas destoantes e apresentavam uma obra depurada, é abandonado pelos românticos, os quais passam a defender a união do grotesco e do sublime, ou seja, do feio e do bonito, assim como são as coisas na vida real. O Romantismo marca uma importante mudança de postura na arte a proximidade maior entre a vida e a obra, e entre a obra e a realidade.

Nenhum movimento literário-artístico foi tão rebelde e revolucionário como o romântico, em que a regra maior é a inspiração individual.. O Romantismo surge com o liberalismo, filosofia que promove o eu individual, divulgada pela Revolução Francesa, cujos ideais eram: a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

Enquanto a Revolução Francesa chega ao poder, quebrando a hierarquia social e destruindo a aristocracia, o Romantismo destrói as regras e as formas preestabelecidas, abandonado a elite e chegando ao povo. Além das características já observadas, há outras que merecem destaque ou ser vistas com maior aprofundamento:

  • subjetivismo: o romântico quer retratar em sua obra uma realidade interior e parcial. Trata os assuntos de uma forma pessoal, de acordo com o que sente, aproximando-se da fantasia.
  • idealização: motivado pela fantasia e pela imaginação, o artista romântico passa a idealizar tudo; as coisas não são vistas como realmente são, mas como deveriam ser segundo uma ótica pessoal. Assim, a pátria é sempre perfeita; a mulher é vista como virgem, frágil, bela, submissa e inatingível; o amor, quase sempre, é espiritual e inalcançável; o índio, ainda que moldado segundo modelos europeus, é o herói nacional.
  • sentimentalismo: exaltam-se os sentidos, e tudo o que é provocado pelo impulso é permitido. Certos sentimentos, como a saudade (saudosismo), a tristeza, a nostalgia e a desilusão, são constantes na obra romântica.
  • egocentrismo: cultua-se o "eu" interior, atitude narcisista, em que o individualismo prevalece; microcosmos (mundo interior) X macrocosmos (mundo exterior).
  • liberdade de criação: todo tipo de padrão clássico preestabelecido é abolido. O escritor romântico recusa formas poéticas, usa o verso livre e branco, libertando-se dos modelos greco-latinos, tão valorizados pelos clássicos, e aproximando-se da linguagem coloquial.
  • medievalismo: há um grande interesse dos românticos pelas origens de seu país, de seu povo. Na Europa, retornam à Idade Média e cultuam seus valores, por ser uma época obscura. Tanto é assim que o mundo medieval é considerado a "noite da humanidade"; o que não é muito claro, aguça a imaginação, a fantasia. No Brasil, o índio representa o papel de nosso passado medieval e vivo.
  • pessimismo: conhecido como o "mal-do-século". O artista se vê diante da impossibilidade de realizar o sonho do "eu" e, desse modo, cai em profunda tristeza, angústia, solidão, inquietação, desespero, frustração, levando-o, muitas vezes, ao suicídio, solução definitiva para o mal-do-século.
  • escapismo psicológico: espécie de fuga. Já que o romântico não aceita a realidade, volta ao passado, individual (fatos ligados ao seu próprio passado, a sua infância) ou histórico (época medieval).
  • condoreirismo: corrente de poesia político-social, com grande repercussão entre os poetas da terceira geração romântica. Os poetas condoreiros, influenciados pelo escritor Victor Hugo, defendem a justiça social e a liberdade.
  • byronismo: atitude amplamente cultivada entre os poetas da segunda geração romântica e relacionada ao poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por mostrar um estilo de vida e uma forma particular de ver o mundo; um estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício e os prazeres da bebida, do fumo e do sexo. Sua forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista, pessimista, angustiada e, por vezes, satânica.
  • religiosidade: como uma reação ao Racionalismo materialista dos clássicos, a vida espiritual e a crença em Deus são enfocadas como pontos de apoio ou válvulas de escape diante das frustrações do mundo real.
  • culto ao fantástico: a presença do mistério, do sobrenatural, representando o sonho, a imaginação; frutos da pura fantasia, que não carecem de fundamentação lógica, do uso da razão.
  • nativismo: fascinação pela natureza. O artista se vê totalmente envolvido por paisagens exóticas, como se ele fosse uma continuação da natureza. Muitas vezes, o nacionalismo romântico é exaltado através da natureza, da força da paisagem.
  • nacionalismo ou patriotismo: exaltação da Pátria, de forma exagerada, em que somente as qualidades são enaltecidas.
  • luta entre o liberalismo e o absolutismo: poder do povo X poder da monarquia. Até na escolha do herói, o romântico dificilmente optava por um nobre. Geralmente, adotava heróis grandiosos, muitas vezes personagens históricos, que foram de algum modo infelizes: vida trágica, amantes recusados, patriotas exilados.

Romantismo em Portugal

Iniciou-se em 1825, Almeida Garrett publicou o poema Camões, biografia do célebre poeta, em versos brancos, que retratava principalmente o sentimentalismo. O Romantismo durou cerca de 40 anos e termina por volta de 1865, com a Questão Coimbrã ou Questão do Bom Senso e do Bom Gosto, encabeçada por Antero de Quental. Assim como em outros países, o Romantismo português uniu-se ao liberalismo e à ideologia burguesa.

O movimento romântico nasceu dentro de uma atmosfera política bastante conturbada, que defendia a implantação do liberalismo no país. Esse movimento tinha por objetivo a implantação de uma política de cortes, eleita por todas as classes sociais. De um lado, D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil) representava o liberalismo; de outro, D. Miguel, seu irmão absolutista. Derrotado, D. Pedro cede o trono português ao irmão e só consegue reavê-lo em 1834, quando o liberalismo finalmente vence.

É em meio a esse desenrolar de anos tão caóticos, de lutas entre liberais e conservadores, que os românticos foram implantando as reformas literárias.

Há três momentos distintos no desenvolvimento do Romantismo português:

  • 1º Romantismo (ou primeira geração): atuante entre os anos de 1825 e 1840, ainda bastante ligado ao Classicismo, contribui para a consolidação do liberalismo em Portugal, Os ideais românticos dessa geração estão embasados na pureza e originalidade. Principais escritores: Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Antônio Feliciano de Castilho.
  • 2º Romantismo (ou segunda geração): também conhecido como Ultra-Romantismo, marcado pelo exagero, desequilíbrio, sentimentalismo, prevalece até 1860. Principais escritores: Camilo Castelo Branco e Soares Passos.
  • 3º Romantismo ( ou terceira geração): de 1860 a 1870, é considerado momento de transição, por já anunciar o Realismo. Traz um Romantismo mais equilibrado, regenerado (corrigido, reconstituído). Principais escritores: João de Deus, na poesia, e Júlio Dinis, na prosa.

Além da poesia e do romance, nesses três momentos românticos, desenvolveram-se ainda o teatro, a historiografia e o jornalismo de forma nunca vista antes em Portugal.